segunda-feira, 27 de setembro de 2010

Vazio existencial

Em certos momentos sinto um profundo vazio... uma sensação difícil de explicar. Como se estivesse esperando algo que ainda não ocorreu, mas sem entender exatamente o que pode ser. Como se algo estivesse faltando. Essa sensação é constante, mas se exacerba em alguns momentos, como exatamente agora. Isso gera uma ansiedade absurda, pois sem identificar a causa, ou o que poderia preencher este vazio, sofro. Um sofrimento silencioso, com perguntas sem respostas... Como posso transcorrer uma vida inteira com a certeza da incerteza? Onde estará a paz que me falta? Por que minha alma mostra-se sempre tão inquieta? Haverá algum dia a sensação de plenitude de uma paz interior que ainda não senti? Encontrarei respostas para perguntas que nem mesmo eu compreendo? O que falta? O que?

Ouvindo "Clair the Lune" enquanto escrevo.



terça-feira, 21 de setembro de 2010

UPA lá lá

UPA - Unidade de Pronto Atendimento.


Não sei se só no Estado do Rio, mas diversas UPAs têm sido inauguradas nas cidade aqui por perto. Uma espécie de pronto socorro, a UPA tem uma estrutura pré-moldada, com construção rápida, aparência bela, moderna e arrojada, toda informatizada... Deixe-me tentar explicar melhor.
Você chega na UPA e é recebido por uma equipe qualificada de profissionais muito bem treinados. Seguranças na porta, atendentes bonitas e educadas que fazem o seu cadastro inicial, gerando uma ficha de atendimento virtual nos computadores. Espera em uma ampla e confortável sala e então passa por uma entrevista com enfermeiros que fazem a classificação de risco. Azul, verde, amarelo e vermelho, segundo a gravidade do problema de saúde. Vermelho geralmente chega de ambulância e vai direto para a sala vermelha, com atendimento de fato para casos gravíssimos. Amarelos para a sala amarela, casos urgentes que precisam também de rapidez no atendimento. Vermelhos e amarelos passam na frente de todos, por isso, ou também por isso, o atendimento na UPA não é por ordem de chegada, mas por ordem de gravidade. Verdes e azuis aguardam mais tempo para serem atendidos na emergência ambulatorial, também por ordem de prioridade do mais grave ao menos grave. A UPA possui sala de medicação, sala de nebulização, sala de sutura... enfim, tudo para o atendimento de urgências e emergências. Teoricamente deveria ter um médico na sala vermelha, um na sala amarela, três clínicos e dois pediatras na emergência ambulatorial. Pois bem...


Sexta passada eu fui dar mais um plantão na UPA. E pasmem, daquela equipe perfeita que eu citei ali em cima que deveria haver, de mais ou menos 7 médicos, só tinha eu! Sim meus caros amigos, só eu! A equipe médica de um homem só! Atendi dezenas de pessoas no ambulatório de emergência, velhinhas infartadas na sala amarela, surto psicótico por uso de drogas, descompensação cardíaca na sala vermelha, suturas e mais suturas de diversos acidentes como de moto, atendi crianças (que os outros clínicos geralmente se negam a atender por não serem pediatras... e trabalhei feito um doido por 24 horas seguidas praticamente sem descanso... Pra quem acha que vida militar é difícil, passar um ano na amazônia como médico... aquilo foi fichinha! Estado de guerra é trabalhar sozinho numa UPA sexta-feira à noite! Verdade seja dita que se levei um serviço de emergência "sozinho" foi porque na verdade a equipe que estava comigo colaborou muito, enfermeiros, técnicos, atendentes, maqueiros, o pessoal da limpeza, a equipe na farmácia... todo mundo sem exceção. Mas juro, teve hora que deu vontade de sair correndo e nunca mais voltar!

Mas sou louco. Amanhã é meu aniversário, e estarei em mais um plantão de 24 horas na UPA-Petrópolis. Não me desejem feliz aniversário. Desejem-me boa sorte!

sexta-feira, 17 de setembro de 2010

Tefé em rede nacional

Não sei se todos sabem, mas passei o último ano como médico voluntário no Exército brasileiro na cidade de Tefé, interior do Amazonas. Voltei para minha cidade, Petrópolis há apenas 1 mês, e ainda estou em fase de readaptação à vida fora da "selva". Tenho muito o que escrever sobre essa experiência, e o farei em breve.

O Jornal Nacional está fazendo uma série onde o repórter Ernerto Páglia vai de avião para cidades sorteadas, fazendo matérias curtas, mas muito interessantes sobre a realidade do Brasil. Para minha felicidade e surpresa, a cidade de hoje foi Tefé.



Eu tenho alguns comentários para acrescentar à reportagem. Em Tefé fica a Brigada das Missões, uma das bases militares mais importantes da amazônia, responsável pela proteção daquela região e da soberania brasileira (onde servi). A cidade sofre com a falta de saneamento básico, rede de esgoto quase inesiste, não há indústria, fábricas, ou produção de qualquer coisa na cidade. Nem mesmo plantações ou cultivo de nada. Tudo é muito caro, um requeijão pode custar 8 reais, uma coca-cola 6 reais. Internet, eu pagava 120 reais por mês para velocidade mais lenta que internet discada. Conseguir uma ligação de celular exige cinco, seis tentativas. A luz falta TODO DIA por mais de 2 horas. Uma carta comum ou PAC leva cerca de 30 dias para chegar na cidade. A temperatura média é de 35 graus, todos os dias, e não venta na cidade. Não há coleta regular de lixo, e os urubus estão em grande número pousados nas ruas e nos telhados das casas. Há muito mais o que contar... muito! Prostituição infantil, políticos corruptos... e claro! Como assim a secretária de saúde (que conheci) diz que os médicos estrangeiros (bolivianos, peruanos, sem registro em Tefé) salvam vidas? Eles estão ilegais no Brasil, não têm permissão para clinicar, não possuem CRM, e prescrevem medicações absurdas que não se relacionam com as doenças presentes nos pacientes, causando terríveis iatrogenias! Cansei de corrigir prescrições absurdamente erradas feitas por eles! Condutas inexistentes! Diagnósticos fantásticos! Quando cheguei em Tefé ouvi do secretário de saúde anterior que ele preferia contratar os médicos sem registro do que nós (médicos do exército com registro) pois saía mais barato. E quando eu atendia GRATUITAMENTE nos fundos de uma igreja da cidade, houve pressão de políticos para com o líder comunitário com quem realizávamos o trabalho, para que parássemos de atender de graça pois isso "ia contra o atendimento dos hospitais e clínicas da cidade". Essa é parte da realidade do interior do amazonas, meus amigos. Apenas uma parte...

quinta-feira, 16 de setembro de 2010

Arrancando o problema

Espero que os personagens que fazem parte desta história jamais leiam isso... ou que leiam, porque não?
Não revelarei nomes, local, ou data.

Em um plantão de emergência em que participei certa vez, chegou uma menina de uns 10 anos de idade com um alicate de cutícula cravado na sola de seu pé. Ela subiu na cama, não viu o alicate, pisou nele e o objeto penetrou de forma substancial em sua pele. A menina tinha um semblante de dor e medo. O alicate estava muito bem fixado, pendurado na sola do pé.

Se eu tivesse conduzido o caso teria ministrado um ansiolítico para a menina, feito assepsia do pé e do alicate com degermante ou iodo, faria anestesia com lidocaína na região do entorno do ponto de penetração, tentaria, a partir de então, alguma manobra leve para retirada, não conseguindo utilizaria um bisturi para abrir um orifício melhor de saída e então nesta altura teria retirado o alicate. Por fim, talvez daria alguns pontos para fechar o ferimento.

Mas não fui eu que atendi a menina. A médica colocou-a deitada numa maca, segurou o bisturi com a mão e tentou arrancá-lo de imediato com um puxão súbito... e ineficaz, fazendo a pobre garota urrar e chorar de dor. Não satisfeita, a médica continuou puxando e rodando o alicate que permanecia preso no pé da menina!!! Eu então me retirei da sala. Não vi o desfecho do atendimento. Entendam, que não foi por falta de sangue frio que não presenciei o procedimento até o final, e sim por falta de conivência com a metodologia utilizada para tal "abordagem" médica. Quem sou eu para discordar do procedimento da nobre colega... cada médico tem liberdade de ação e responde por suas consequencias, mas então, para que os recursos do hospital se a própria família poderia ter utilizado de mera tração manual? Sério, eu não entendo. E cada vez entendo menos. 

Que o universo me proteja para nunca ser atendido em um serviço de emergência! A não ser por mim mesmo... o que seria algo improvável...

quarta-feira, 15 de setembro de 2010

Médico - uma vida de puta

Comecei a dar plantão na UPA (Unidade de Pronto Atendimento) de Petrópolis.
Ontem, no meu segundo plantão, atendi certa de 70 pessoas. SETENTA pessoas. SETENTA. Em um dia. Conseguem compreender isso? Eu sozinho... 70 pessoas...
Comecei a atender às 8:00, quando me dei conta eram 4 da tarde e eu tinha perdido o almoço, subi para ir ao banheiro e encontrei na copa uma marmita de comida hiposódica da qual só comi as batatas em 5 minutos e voltei para atender, continuei até uma da manhã, não dormi e continuei atendendo até às 8 da manhã fechando 24 horas de trabalho...

Em homenagem a este momento da minha vida, lembrei de uma comunidade do orkut que participo, e transponho aqui o texto:



Médico - Uma vida de puta! 

Você trabalha em horários estranhos. 
Que nem as putas! 
Te pagam pra fazer o cliente feliz. 
Que nem as putas! 
Seu trabalho sempre vai além do expediente. 
Que nem as putas! 
Seus amigos se distanciam de você, e você só anda com outros iguais a você. 
Que nem as putas! 
Seu chefe tem um lindo carro. 
Que nem as putas! 
Quando vai ao encontro do cliente, você tem de estar sempre apresentável. 
Que nem as putas! 
Mas quando você volta, parece saído do inferno. 
Que nem as putas! 
O cliente quer sempre pagar menos e que você faça maravilhas. 
Que nem as putas! 
Todo dia, ao acordar, você diz: "NÃO VOU PASSAR O RESTO DA VIDA FAZENDO ISSO. 
Que nem as putas! 
Se as coisas dão errado, é sempre culpa sua. 
Que nem as putas! 
Você sempre acaba fazendo serviços de graça para o chefe, os amigos e familiares. 
Que nem as putas! 
Apesar de tudo isso, você trabalha com prazer. 
Que nem as putas! 
Puta merda - você tem certeza de que é um médico mesmo ?

segunda-feira, 13 de setembro de 2010

Nosso Lar

Eis um dos melhores filmes que assisti ultimamente.



Entenda: é uma história VERÍDICA. Ela foi contada por alguém que conseguiu enviar seus escritos sobre o que aconteceu após a sua morte. André Luis, o "espírito", após morrer, escreveu, ou psicografou sua história com o auxílio de um médium, alguém capaz de "ouvir" e escrever o que lhe ditam. Neste caso, o médium foi Chico Xavier. Você não precisa acreditar no que estou dizendo. Mas contra fatos não há argumentos! Vivemos hoje sobre uma nova era, onde certos fatos não podem mais ser refutados. A existência da vida após a morte e da reencarnação é uma certeza. Estudem!

O filme vale pela história, vale pela beleza, vale pelo conteúdo filosófico, moral e porque não até religioso. Chorei em diversos momentos. E o personagem principal é um médico, o que nos leva (eu pessoalmente, com a mesma profissão) a muitas reflexões sobre nossas atitudes, muitas vezes imperceptíveis. Trabalhem-se, amigos. Evoluam nos quesitos morais, em suas atitudes. No lidar com os outros, e até na forma íntima de pensar. Vou começar a escrever bastante sobre esses conceitos em breve. Não percam! Forte abraços a todos!

Obs- aposto que o próximo filme a ser produzido será sobre o livro "Violetas na janela"!